Tenho pensado muitas vezes como será ser o/a parceiro/a sexual numa relação com uma mulher com vaginismo.
Claro que apenas posso imaginar, porque estou do outro lado, do lado de quem tem e não de quem convive com uma mulher com vaginismo.
Claro que o vaginismo, e a luta contra o vaginismo, nem sempre são vividos com parceiros/as. Pode haver tratamento de vaginismo com pessoas sem parceiros/as. Até diria que era preferível detectar o vaginismo, e tratá-lo, antes de ele se manifestar em relação. Mas, como a minha experiência é a dois, resolvi falar dos/as parceiros/as...
Imagino que poderá ser muito doloroso.
Querer e não poder.
Tentar e ter medo de magoar.
Imagino também que deverá ser algo que nos 'obrigue' a melhorar o jogo erótico.
O que, convenhamos, tem muita utilidade, com ou sem vaginismo!!
Com o M. não foi traumático.
Não foi a melhor coisa que nos aconteceu, mas também nunca foi um pesadelo ou algo que fizesse abalar a nossa relação.
Conseguindo ultrapasar isto, óptimo! Não conseguindo, o que temos é óptimo também!
Acredito que nem todas as relações sejam assim.
E também não estou a dizer que devam ser assim.
Para nós funciona muito bem, mas cada um vive a sua relação e o seu vaginismo, com mais ou menos stress e equilíbrio.
É comum dizer-se que os/as parceiros/as de mulheres com vaginismo são pacientes e compreensivos.
Não sei se é mesmo assim, ou se é algo que nós, mulheres com vaginismo, e os profissionais de saúde que lidam com o vaginismo, construímos devido à centralidade que se dá à penetração vaginal. Ou seja, só uma pessoa extraordinariamente paciente e compreensiva conseguiria viver privado de tal coisa central e fundamental como é a penetração vaginal...
Não sei mesmo se concordo.
Num tempo em que se pensa a sexualidade como um todo, não é um pouco (ou até mais do que um pouco) redutor dizer que só se tem 'vida sexual activa' quando se tem penetração vaginal?
E as outras coisas que podemos fazer no jogo erótico? E podemos fazer muitas coisas!!
A descoberta do corpo do outro? O toque? A descoberta do nosso próprio corpo?
Qual é o papel que isso tem? Não pode ser só um acessório para a centralidade do coito, pois não?
O que acontece com algumas mulheres com vaginismo é que, depois de ultrapassarem este problema, a sua vida sexual piora.
Isto tem que nos fazer pensar, não acham?
A penetração vaginal é algo maravilhoso. Pelo menos, até agora, eu tenho adorado. E pensava que ia ser indiferente, devo confessar. MAS, não é tudo, certo? E faz parte de algo maior.
Acho!
Todo este blá, blá, blá, para dizer que acho que os/as parceiros/as também acabam por desenvolver um pouco de vaginismo ou medo do coito.
O medo de magoar, a impossibilidade de não se conseguir. De fazer muita ou pouca pressão ou força. De querer ir depressa demais ou ser demasiado/a paciente e não 'cobrar'...
E aí, acho que o mais importante (embora soe a cliché) é mesmo ter um/a parceiro/a que nos conheça e goste de nós para que em conjunto possamos criar estratégias para nos apoiar mutuamente.
Sim, porque eles/elas também precisam da nossa ajuda.
Pelo menos comigo, estava tão centrada no meu vaginismo e no meu problema que não estava a valorizar como devia o que é exigido a quem está ao nosso lado. 'De repente', o jogo erótico muda e ele ou ela pode/deve fazer coisas que eram 'proibidas' até então.
O que deve ser, no mínimo, assustador!
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